Nativos e visitantes da vila de Jericoacoara participaram de evento que reuniu oficinas, lazer e preservação ambiental
Em: 03/08/2011
Por: Iracema Sales (para o Diário do Nordeste / Negócios)
Promover a sustentabilidade em Jericoacoara, praia localizada a 287 km de Fortaleza, litoral Oeste, que até os meados dos anos 1980 era uma vila de pescadores, não constitui tarefa fácil. Apenas a vila concentra cerca de 2.500 pessoas do total de 17 mil habitantes do município de Jijoca de Jericoacoara. No entanto, a população flutuante da então vila de pescadores - que integra área do Parque Nacional criado em 2002 -, o que impõe algumas restrições ao seu uso e ocupação, pode chegar a 30 mil nos meses de julho e agosto. A acomodação dos visitantes, cuja média de permanência no local é de dois dias, é feita nos cerca de 170 postos de hospedagem existentes.
Problemas e soluções
O cenário paradisíaco e, ao mesmo tempo, multicultural da vila de Jericoacoara apresenta problemas que vão desde apagões, insegurança e falta de saneamento. Prova disso é a produção de lixo - estimada em 400 toneladas/mês, como afirma Roberto Lima, turismólogo, morador da vila há 14 anos, onde coordena o projeto Vassouras Ecológicas, feitas com garrafas PET.
Ele apresentou o trabalho no o "Projeto Jericoacoara, 24 horas de Ecologia" realizado no último fim de semana (30/07), na sede do Club Ventos. O evento constou de oficinas e palestras com especialistas em soluções sustentáveis capazes de possibilitar a economia de água, energia e aproveitamento de materiais recicláveis como o plástico. O objetivo do evento era discutir os problemas ambientais com a comunidade local, como o destino final ao lixo.
Reciclagem
Roberto Lima explicou que o projeto das vassouras com garrafas PET é desenvolvido pela Secretaria de Turismo e Meio Ambiente do Município. Embora esteja em fase de implantação, acredita na sua viabilidade como forma de trazer ocupação para a comunidade nativa e proporcionar geração de renda.
Com relação ao saneamento, afirma que toda a vila de Jericoacoara conta com o serviço, lamentando que apenas 35% das casas estejam ligadas. Existe a rede complementar, sendo enviados os resíduos sólidos para serem tratados em Fortaleza. A parte líquida, após passar por tratamento, é usada nos coqueiros. A conscientização deve passar tanto pelos nativos quanto pelos visitantes, diz, explicando que o município já teve coleta seletiva, atribuindo a "questões políticas" o seu fim.
Jericoacoara não conta com rede elétrica pública, possuindo sistema elétrico subterrâneo. As quedas de energia são constantes devido ao alto consumo, principalmente, na alta estação turística. A saída para contornar os problemas ambientais é investir na educação, recomenda um dos convidados do evento, o biólogo Richard Olivier Laveder, trabalha na área de sustentabilidade ambiental há mais de 20 anos. Seu trabalho consiste na transferência de tecnologias de países escandinavos, Estados Unidos, França, Austrália, Canadá, entre outros, para o Brasil.
Na palestra, apresentou os mictórios sem água e os vasos sanitários eficientes. O biólogo, formado pela Pontifícia Universidade de Campinas (PucCamp), defende a compostagem como uma forma de diminuir a produção do lixo doméstico, apostando nas soluções simples bem no estilo cada um deve fazer a sua parte.
Economia de água
O biólogo atenta para a importância da economia de água, citando o uso do sistema de descarga sanitária por pressão Flusmate Sloan IV, tecnologia de descarga por pressão auxiliar que utiliza o ar comprimido no interior de uma caixa de descarga selada para empurrar os resíduos para fora. Nesse sistema, a ação do sifão ou de uma unidade de gravidade é substituída pelo ar comprimido, que força a água para fora da bacia. Com a tecnologia por pressão, o consumo pode chegar a apenas a 20 litros por dia. "Nosso foco é água e energia", pondera o biólogo, reconhecendo os riscos de doenças. Ações simples podem diminuir problemas de esgotos, que podem ser separados.
No entanto, no Brasil e em muitos países do mundo, não existe a separação dos esgotos. Na Austrália, afirma que a separação já é uma realidade. "Por que contaminar toda a rede?", Indaga, explicando que os resíduos que saem do sanitário podem ser enviados para uma estação e tratados.
Laveder é incisivo ao afirmar que "só se resolve problema de esgoto localmente". Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia e Cingapura estão na frente quando o assunto é tratamento de esgoto, enquanto França, Inglaterra e Estados Unidos estão atrás. Defende que o governo precisa subsidiar a pesquisa para que os cientistas desenvolvam novas tecnologias.
Considera como lição número um, quando o assunto é economia de água e sustentabilidade, a diminuição e o tratamento do esgoto primário. "No Brasil, a maior parte do lixo produzido é de material orgânico".
Aquecedor solar
O técnico em eletromecânica da linha automotiva, José Alcino Alano, de Santa Catarina, demonstrou o aquecedor solar feito a partir de garrafas PET e tubulação. "É uma alternativa e uma forma de incentivar o uso do aquecedor solar", explica o seu criador, que patenteou seu invento, ganhando o prêmio Super Ecologia de 2004.
Confeccionado por módulos, o equipamento é instalado sobre o telhado. A água entra pela tubulação e no interior das garrafas onde ocorre o aquecimento, atingindo toda a água da caixa. O projeto do aquecedor solar tem o caráter também de socialização.
Destinação
400 toneladas de lixo são produzidas mensalmente na vila de Jericoacoara. A localidade já teve coleta seletiva, que foi desativada por questões políticas, segundo moradores.
Fotos: Google
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